segunda-feira, 11 de julho de 2011

Do outro lado da fronteira - Escrito por Cecília Pereira e Jéssica Manhães. pt. V

PARTE V:

Férias que não terminavam mais:

Guadalupe: Pouco se sabe dessa mulher misteriosa, nem mesmo sua filha e neta a conhecem muito bem, antes da imigração, Guadalupe sumiu, dizia que tinha muitas consultas no médico, pra ver sua saúde, antes de se arriscar ao atravessar a fronteira.
O que nem mesmo sua família sabia, é que Guadalupe estava se oferecendo para ser mula, sim mula. Uma certa tarde, ela foi ao encontro de um traficante muito conhecido (procurado) pela polícia, Guadalupe pensando nos dias difíceis e sem dinheiro ao chegar nos EUA, aceitou carregar consigo cocaína, um procedimento muito arriscado, mas se era pra se arriscar desde o início, atravessando a fronteira, o que iria perder sendo mula?
Guadalupe conseguiu passar, e marcou um "encontro" com o dono da droga, e retiraram-na. O que não foi percebido, é que restou dentro de seu organismo uma pequena quantidade, porém letal, se ali permanecesse por mais algum tempo.
Seis meses já se passaram, e as consequências vinham aconpanhando Guadalupe, dores muito fortes no peito, febres e tonturas. O medo de morrer só era maior do que o medo de ir a um médico, por isso, Guadalupe se manteve em silêncio o máximo que pôde.

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"Querido Hermes,
Sinto tanto a sua falta, de nossas conversas, de seus carinhos, do seu cheiro, seu abraço, sua voz.
Tudo em você me faz gostar de ti, e ao mesmo tempo me sentir sozinha, por saber que você não está aqui comigo.
Como vão todos por aí?
Tio Afonso como está? Melhorou da pneumonia?
Minha avó é quem não anda muito bem, anda meio doente, e um pocuo triste, não sei o que pode ser, ela se recusa a se tratar, acho que pode ser por medo de como entramos aqui, ou saudades de nossa terra. Só sei que ela não irá melhorar só tomando xarope caseiro, como ela anda fazendo. Mamãe e eu quase não temos podido estar com ela em casa, estou passando as férias inteiras  na casa dos Donald, o dinheiro por isso é muito bom, e mamãe está se esforçando no restaurante, e passa os finais de semana inteiros com minha avó, não sei se isso é o suficiente, mas enquanto não nos resolvermos aqui, será assim por algum tempo.

Sinto a sua falta. Gostaria que estivesse aqui.
com amor,
Sualinda."
- Isto é mais um motivo para apressar as coisas, não posso deixar a minha amada noiva e sua família abandonadas em um lugar estranho. - Disse Hermes, ao terminar de ler sua carta.
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As férias pareciam demorar para passar mais do que o costume.Sualinda  raramente  encontrava Cristóvão pela casa, pois ele trocava o dia pela noite.
Cristóvão começava a se sentir incomodado com a vida pacata de sua família. Então, ao se lembrar da babá de seus irmãos, resolveu divertir-se com ela um pouco, porém Sualinda não era uma garota fácil, o que atraía mais o desejo deCristóvão.
Este por sinal, conseguiu um estágio temporário no período das férias em um hospital próximo de casa, o dono era amigo de pôker de seu pai. Aos poucos ele se via se tornando mais um típico jovem de família, como a maioria dos que viviam naquele bairro. Mas tudo acabaria junto com as férias e a farra voltaria ao reencontrar seus amigos de Faculdade, estes eram seus planos: a confiança, orgulho e alegria dos pais, e eles não se incomodariam de dar-lhe dinheiro para curtir quando voltasse para seu estilo de vida. Enquanto tivesse que ficar ali e agir mais corretamente, pelo menos teria uma "babá boazuda" no quarto próximo a cozinha.

Um certo dia, Sualinda ficou sob a responsabilidade de cuidar das crianças, e da casa, enquanto o Sr. e a Sra. Donaldpassariam um final de semana fora.
Cristóvão havia tirado folga no hospital, e também ficaria em casa durante aqueles dois dias.

- Já está bom por hoje, crianças, daqui a pouco escurece, saiam da piscina agora, por favor! - Gritava Sualinda, ela estava como sempre, bem humorada, bonita e radiante na beira da piscina, fazia calor e ela usava um blusão e um shortinho.
- Me ajude a sair, Sualinda, eu não consigo sozinha. - Pediu Pavuna.
 - Me dê sua mão, venha... - Inclinou-se Sualinda que percebeu que Vicente a empurrara para a piscina.
Os três se divertiam, quando perceberam que Cristóvão observava tudo.
- Trouxe comida para nós, assim você não precisa se preocupar com isso esta noite! - Disse sorrindo em direção aSualinda. - Espero que todos gostem de pizza de calabresa.
- Não precisava se incomoda com isso, eu gosto de cozinhar...
- Não foi incomodo algum, muito pelo contrário, fico feliz em poder ajudá-la quando possível, aliás, gostaria de uma ajuda para sair da piscina?
- Não, obrigada.
- Eu insisto. - Estentando a mão para Sualinda.
Sualinda pegou em sua mão, e saiu da piscina, os dois ficaram frente a frente por alguns segundos, e Sualinda se retirou, afinal, era apenas a empregada, e estava toda molhada por entrar na piscina de seus patrões.
Ciristóvão a observava se retirar, e mais uma vez, deu um sorriso como o do dia em que a viu pela primeira vez...


No jantar, o silêncio foi sepulcral, sendo ditas apenas as palavras necessárias, logo em seguida, Sualinda colocou as crianças para dormir, e também se retirou.
Já eram quase 6 de manhã, quando ouviu batidas em sua porta. Era Cristóvão, com uma expressão de dor, Sualinda ficou preocupada e mandou-o entrar, foi ao banheiro pegar sua caixinha de remédios, quando notou-o indo atrás dela, ela o surpreendeu, e perguntou o que ele sentia. “Uma enorme angústia” ele respondeu, “De quê, por quê?” .
E quando menos esperava um beijo Cristóvão lhe deu.
Ele foi salvo de um tapa, pois seu celular tocou no mesmo instante, era do hospital: uma senhora que não falava inglês, apenas espanhol havia dado entrada no hospital e precisava de uma cirurgia urgente...

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